cosmo1

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O TEMPO REALMENTE EXISTE?

O tempo
Tempo.
Ele está ao nosso redor. Mas ele é o que pensamos ser? O tempo parece avançar   mas será que pode recuar? Os eventos se desenrolam um após o outro, ou o passado, o presente e o futuro existem lado a lado? É um dos assuntos mais desafiadores da ciência, questionando nossas concepções mais básicas da realidade. O tempo é uma parte fundamental do Universo, ou talvez o tempo realmente não exista?  ATRAVÉS DO BURACO DE MINHOCA  Espaço, tempo, a própria vida. Os segredos do cosmos através do buraco de minhoca.  O TEMPO REALMENTE EXISTE?   MUSKETEERS Otoni Rukazu Sofista Kakko  Que horas são? Eu poderia dizer que são h, mas o tempo pode variar, dependendo de onde se está e quando. Para a maioria de nós, o tempo é um conjunto de números que usamos para medir nossos dias. Vivemos nossa vida pelo relógio, acordando, correndo para trabalhar, indo para cama e assim por diante. Mas nem sempre foi assim. Quando eu era criança, os verões eram atemporais. Não tinha um lugar determinado para estar, sem compromissos a cumprir. Meus dias eram delimitados apenas pela posição do sol. O tempo não importava muito à época. Hoje, minha vida é uma corrida contra o tempo. Mas contra quem estou correndo? O tempo é algo real incutindo no Universo? Ou é apenas uma abstração, algo que criamos para manter nossas civilizações funcionando? Para responder, temos de fazer uma pergunta supostamente simples: O que é o tempo? Pense sobre isso. Tente defini-lo. Não é fácil. Tempo é o que impede que tudo aconteça de uma vez, assim, o tempo é a parte do mundo que ordena os eventos de forma que ocorram em sequência, do princípio ao fim. Estamos notando na neurociência que o tempo não é o que pensávamos. O tempo não é algo que se acompanha passivamente. Ao contrário, é algo construído ativamente com o cérebro. O meu cérebro e seu podem ser muito diferentes em termos de como veem o mesmo evento. O tempo não existe. O que existe é uma  distribuição de tudo no mundo, o que chamo de "agora". É isso que existe. O que eu gosto é do registro do tempo. Para Roger Smith, tempo é dinheiro. Seu relógios personalizados são vendidos por milhares de dólares. A parte mais difícil do trabalho é fazer essa selva de pequenas engrenagens e rodas dentadas bater em intervalos espaçados precisos. Introduzir o tempo num relógio é um processo longo e complexo, esta roda dentada tem de estar em equilíbrio perfeito. Se não estiver em equilíbrio perfeito, o relógio terá velocidades diferentes, tempos diferentes em posições distintas. O objetivo de Roger é fazer seus relógios coincidirem com a hora de Greenwich, o fuso que todo relógio ao redor do mundo usa como base. Ele recebeu o nome deste lugar, Greenwich, Inglaterra. O tempo, tal como conhecemos, nasceu aqui. Em , uma conferência mundial decidiu que o meridiano que corta o observatório de Greenwich seria o meridiano inicial, o fuso base da Terra. A hora de Greenwich é nossa melhor representação do tempo como descrito por Sir Isaac Newton, a batida constante por trás do cenário do Universo. Newton acreditava que o Universo era um relógio gigante posto em movimento por Deus. Mas Newton entendeu errado. Lee Smolin é um físico teórico que tenta resolver os mistérios do tempo. O conceito de Newton era de que o tempo era absoluto. Como um metrônomo, que, como ele disse, bate de forma absoluta, sem considerar se algo está ou não ocorrendo no Universo, mesmo que nada esteja acontecendo. Por exemplo, mesmo que não haja música neste estúdio, o metrônomo segue batendo no mesmo ritmo, independente do que esteja ocorrendo. O problema é que é impossível qualquer um de nós detectar o tempo absoluto. Não detectamos o tempo absoluto. Detectamos o tempo como relações entre coisas que acontecem. Podemos ilustrar isso pedindo aos músicos para começar a tocar. Um, dois, três, quatro. Eles começam a tocar, desenvolvem o tempo entre eles, um tempo relativo construído a partir das relações entre as notas que tocam, os eventos que criam. O tempo é assim. Podemos desligar o metrônomo. Podemos nos livrar dele, que o mundo e a música continuam como antes. Essa foi a grande sacada de Einstein, a base de sua Teoria da Relatividade. Que o tempo é criado pelas relações de mudanças que ocorrem no Universo. Nada mais. Mesmo hoje, algumas pessoas têm dificuldade em aceitar o tempo relativo de Albert Einstein em relação ao absoluto de Isaac Newton. Mas conforme melhoramos na precisão do tempo, mais vemos que Einstein tinha razão. Este é o relógio experimental de íons de alumínio do Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia em Boulder, Colorado. O medidor oficial da hora nos EUA. É o relógio mais preciso do mundo, medindo as oscilações de átomos supercongelados. Ele atrasa apenas um segundo a cada , bilhões de anos. Em , o senhores do tempo de Boulder colocaram dois relógios de íons lado a lado em perfeita sincronia, depois puseram um dos relógios a  cm de altura. O relógio mais alto dessincronizou. Ele batia um pouco mais rápido que o relógio mais baixo, em razão de o mais alto estar um pouco mais longe da força gravitacional da Terra, que desacelera as coisas. Einstein previu que isso aconteceria já no início do século XX, e ele estava apenas começando. Se percebêssemos o Universo como Einstein imaginou, a vida não fluiria em uma suave progressão linear. Um ato simples poderia ser interrompido e rearranjado sem direção lógica, para trás ou adiante, sem princípio ou fim. O Universo seria assim se não estivéssemos fisicamente presos ao tempo. Sean Carroll é físico do Inst. de Tecnologia da Califórnia. Vivemos no espaço. Ao nosso redor, existem três dimensões espaciais. Einstein percebeu que o tempo também é uma dimensão. Na verdade, o tempo e o espaço são uma coisa só chamada espaço-tempo, que é quadrimensional. É nisso que vivemos. Moramos e vivemos nossas vidas nisso. Além disso, Einstein notou que a gravidade é uma manifestação da curvatura do espaço-tempo. Há coisas no Universo, um planeta, um buraco negro algum tipo de massa ou energia, que deformam o espaço e tempo ao seu redor, é isso que vemos como gravidade. É o espaço-tempo que é deformado. Tanto o tempo quanto o espaço. Se viajarmos perto de um campo gravitacional forte, sentiremos a passagem do tempo diferente do espaço sideral. A relatividade do tempo causa vários efeitos estranhos, como o tempo passando mais rápido para astronautas do que para pessoas na Terra. Mas a solução de Einstein para o mistério do tempo originou uma ideia ainda mais desafiadora. Se olharmos ao redor, veremos que tudo no espaço existe aqui e agora. Isso não quer dizer que todo o tempo, passado, presente e futuro também existam da mesma forma? Será que o futuro já está por aqui? A física afirma que os momentos do tempo são igualmente reais, isso nos leva a dizer que todos existem simultaneamente, existem neste instante, mas não é o que parece. Momentos distintos de tempo são como lugares distintos no espaço. Eles não estão aqui. Existem, mas em outro lugar. A diferença é que, ao contrário do espaço, não podemos fazer nada além de vivenciar o tempo um momento após o outro. Não podemos voltar a momentos do passado, e não podemos, agora, conversar com eventos no futuro. Esse tipo de deslocamento temporal parece contradizer as leis da Física e a experiência humana. Ou será que não? Talvez não. Este homem afirmaria que o mundo está cheio de gente que não está presa ao tempo e que talvez o próprio tempo esteja apenas em nossa cabeça. O tempo é a "batida constante" por trás do Universo? Ou o tempo é algo que muda de um lugar ao outro e de pessoa para pessoa? Quanto mais velhos ficamos, mais rápido as correntes do tempo parecem nos levar. Nossa relação com o tempo muda conforme envelhecemos. Estudos mostram que a passagem do tempo parece aumentar pela raiz quadrada de nossa idade. Então, aos  anos, a relação é de  para , aos  anos, de  para . Aos  anos, será  para  , cerca de duas vezes e meia mais rápida. Todos vivenciamos o tempo segundo a segundo, mas não é percebido assim. David Eagleman da Faculdade de Medicina Baylor passou boa parte de sua carreira estudando como o ser humano percebe o tempo. Ele descobriu que nossa percepção do tempo é regida por estados biológicos e psicológicos. Muitas pessoas acordarão antes de o alarme tocar porque à medida que seu ritmo circadiano entra em movimento, seus sinais corporais dizem que é hora de levantar, e então elas acordam. Nossa noção de tempo também pode ser alterada por coisas como privação sensorial, super estimulação e estados alterados de consciência. Por exemplo, quando alguém fuma maconha, sente coisas como: "Nossa, estou aqui faz tempo. "Há quanto tempo estou aqui?" Como se sua passagem de tempo desacelerasse, mas não é exatamente a lenta percepção do tempo. Creio que seja sua incapacidade de fixar uma lembrança, o marco de quando chegou. Sem esse marco, parece que ele está lá há muito tempo. Se você alguma vez sofreu um acidente, talvez tenha vivenciado a estranha sensação de que o evento passava em câmera lenta. Mas ao contrário do "barato" dos narcóticos você se lembra de tudo em detalhes. Esse é outro caso da memória distorcendo o tempo. O que ocorre durante um evento de alta intensidade é que temos um centro de controle de emergência no cérebro que entra em ação e retém lembranças densas durante o fato. Por isso, ele parece ter demorado. A todo momento, o cérebro processa e sincroniza uma enorme quantia de informação. Atos simples são na verdade pequenos milagres da velocidade e do poder da mente. Quando estalamos os dedos, parece que é algo simultâneo. Parece que a visão e o som acontecem ao mesmo tempo. Mas, na verdade, o que acontece é que nosso sistema auditivo recebe a informação que chega pelos ouvidos e a processa rapidamente, enquanto a visão é muito mais lenta. O que acontece é que o cérebro escuta o som, e, depois, ele vê o movimento, e de algum modo pega ambos reúne e cria a história de que são simultâneos, muito embora os sinais cheguem ao cérebro em tempos distintos. Tudo está descompassado, mas não parece assim para nós.
 Parece que tudo é simultâneo. Leva alguns milionésimos de segundo para o cérebro juntar a informação e apresentá-la à consciência, isso significa que todos vivemos um pouco no passado. Esse "atraso" é a escolha que nosso cérebro faz para nos dar a melhor interpretação do que ocorreu. Mas quando ele não interpreta corretamente, isso pode mudar nossa relação com o tempo. Nosso tempo pessoal torna-se diferente dos demais, e isso pode ter consequências terríveis. Publicações médicas contam de um estranho caso de um homem que dirigia, e notou que as árvores e prédios ao lado da estrada estavam acelerando como se dirigisse a  km/h. Ele aliviou no acelerador, mas a paisagem continuava acelerada. Esse homem percebia o mundo acelerado. Na verdade, ele havia desacelerado. Ele andava e falava em câmera lenta. Ele estava livre do tempo. Mostrou-se que sua "doença do tempo" era causada por um tumor cerebral. Independente do que seja o tempo, ele está incutido profundamente em nós. Todos somos relógios com nosso próprio tempo interno. David Eagleman suspeita que uma leve dessincronização com a passagem do tempo pode levar à doença mental grave. Creio que a esquizofrenia pode ser basicamente um distúrbio da percepção do tempo. Imagine que haja um déficit na percepção do tempo onde não sabemos se nossas próprias ações vêm antes ou depois das consequências sensoriais. Teríamos uma cognição muito fragmentada. Não saberíamos o que causamos ou não. Para mostrar o quão flexível pode ser nosso tempo pessoal, David criou uma experiência que sutilmente distorce a percepção do tempo do voluntário. Imagine que faço você pressionar um botão que dispare um flash de luz. Agora, eu introduzo um pequeno atraso, que quando se pressiona o botão, o flash de luz surge / de segundo depois. Acontece que o cérebro habitua-se a esse atraso. Ele começa a entender que quando interpreta o ato, o retorno sensorial é um pouco mais lento que o esperado. Assim, ele começa a se ajustar a isso, e parece ser simultâneo para nós. Agora, se eu eliminar o atraso, você aperta o botão e o flash surge imediatamente, você acreditará que o flash veio antes de pressionar o botão. Isso é exatamente o que acontece na esquizofrenia. Alguém fará algo e dirá: "Não fui eu. "Não creio que fui eu quem fez isso." O tempo parece variar de pessoa para pessoa, e a natureza elástica do nosso tempo subjetivo fez David questionar se o tempo é, de fato, real. Creio que o tempo talvez seja o filtro psicológico mais inflexível que temos, e quando nos aprofundamos nisso, quando começamos a entender como o tempo é construído pelo cérebro, temos de voltar à Física e reorganizar todas as equações nela. É possível eliminar o fator humano e extirpar totalmente o tempo da nossa descrição física do Universo? Esse homem afirma que "sim." Ele reorganizou as equações de Einstein e descobriu que o tempo talvez possa nem existir. Declarar que o tempo é uma ilusão pode parecer radical, mas a negação do tempo é uma ideia antiga, de . anos. Em  a.C., o filósofo Parmênides declarou que o movimento era impossível porque para um objeto percorrer certa distância, ele teria que passar por uma série infinita de passos fracionários para ir de um lugar a outro, e ninguém podia dar infinitos passos. Se o movimento era impossível, então a mudança também era. Portanto, o tempo devia ser uma ilusão. Ninguém sabia ao certo como entender isso. Sem dúvida, o movimento é real. As coisas mudam e o tempo passa, certo? Talvez não. Num antigo vilarejo no interior inglês, este homem acha que as leis da Física Quântica provam que Parmênides tinha razão. Seu nome é Julian Barbour. Décadas atrás, ele começou a esboçar uma hipótese matemática de que o Universo não precisa do tempo, o que é estranho, pois ele está cercado pelo passado. Estamos na cidade, numa rua muito antiga, e atrás de mim está a minha casa, construída em . Newton tinha  anos à época. Ele começava a pensar seriamente no tempo e no movimento. Se o tempo não existe, o que é tudo isto? Para Julian, tudo que vemos é uma escavação arqueológica. As coisas acontecem primeiro e o tempo é deduzido a partir delas depois. Ele acredita que esta igreja milenar e estes murais do século XIV são provas que a completude do tempo existe em porções do espaço. Nosso passado é apenas outro mundo, ou é outra possível configuração do Universo. É um outro "agora". Isso é literalmente verdade. O instante não está no tempo. O tempo está no instante. A visão radical de Julian sobre o tempo surgiu da equação de Wheeler-DeWitt, um exercício matemático dos anos  que tentava conciliar a relatividade de Einstein com a Mecânica Quântica. Coisas estranhas acontecem quando se faz isto. Acabamos com uma equação que não tem representação do tempo. Como isso contradiz a realidade observável, muitos viram a equação como mais uma prova de que a Física Quântica e a teoria da relatividade não se casam bem. Mas para Julian, era uma revelação. Não há uma história única na Mecânica Quântica. Se a evidência das tentativas em combinar Mecânica Quântica com a teoria de Einstein estiver certa, o tempo não existe. Nos níveis mais profundos da realidade, o tempo não existe. O importante é como os objetos se relacionam nos quadros congelados do espaço. Minha visão do Universo é como uma enorme coleção de fotos instantâneas que são imensa e ricamente estruturadas. Elas não se comunicam. Elas são mundos próprios. Mas cada mundo é tão rico que faz, por assim dizer, parte deste mundo. São instantâneas dentro de instantâneas. A nossa vida é assim. O cérebro reúne os momentos congelados e os executam em nossa mente, da mesma forma que fotos imóveis, exibidas a  quadros por segundo, fazem as imagens que você está assistindo parecerem se mover. Mas nada está se movendo. O que chamamos de "tempo" é uma ilusão. De uma forma profunda, o universo quântico é estático. Nada muda. Segundo Julian, todas estas fotos instantâneas do Universo existem simultaneamente. Se eu disser que  o meu ontem não mais existe, seria como o número  dizer que o  morreu. Matemáticos diriam que isso é ridículo. Este instante é tão vital e vivo, mas de forma a ser eterno. Quando traduzimos isso matematicamente, é eterno. A visão do tempo de Julian Barbour pode parecer radical, mas está sendo levada a sério pela comunidade dos físicos, isso não quer dizer que todos concordem com ele. Longe disso. Lee Smolin, amigo de Julian, também é um dos seus maiores críticos. O tempo não é uma ilusão. Não é uma construção.
 O tempo não é emergente. O tempo é real. A ideia de que o tempo é uma ilusão desencadeou uma guerra na Física, guerra que pôs um amigo contra o outro. O tempo é uma ilusão que criamos para entender o Universo? Os neurologistas e físicos dizem que talvez seja. Mas há outros que dizem que não podemos ignorar quando nossos sentidos e observações nos dizem que o tempo realmente existe. Nessa visão, vivenciamos o mundo como um fluxo de momentos porque a natureza é assim. A passagem do tempo é uma verdade básica e talvez seja a única coisa verdadeira no Universo. Tim Maudlin é filósofo de física na Universidade Rutgers. Dizer que a passagem de tempo é uma ilusão, sugere que eu não estou envelhecendo o tempo todo, que eu deveria me preocupar que minha morte está, todo dia, cada vez mais próxima e assim por diante. Mas não posso acreditar nisso. Por mais que eu tente, não consigo acreditar. Isso não se encaixa ao mundo em que vivo. Para Tim, a existência do tempo é apenas senso comum. Então, por que alguns físicos negam isso? Tim acha que é o risco profissional de trabalhar com a matemática. Nossas representações na Física são todas matemáticas, e objetos matemáticos não estão no tempo. Eles não mudam. Ao se trabalhar muito com números, e números não mudam, usando-os para representar o mundo, talvez seja difícil ver como o mundo possa estar mudando. As pessoas parecem estar presas à ideia de que o mundo tem as características da matemática que elas usam para representá-lo. Isso lhes permite se deixar levar pela matemática e perder a visão do mundo físico. Julian Barbour acredita que o espaço é tudo o que existe e o tempo é uma ilusão. Tim diz que Julian entendeu tudo errado. Precisamos do tempo, mas não do espaço. Podemos fazer o espaço não ser fundamental, mas o tempo continua fundamental. Não precisa haver nada além do tempo, o inverso não é possível. Não pode iniciar com o espaço e obter o tempo. O tempo está no nível mais basilar. Creio que é isso que a Física está nos dizendo, embora não estejamos prestando atenção. O espaço surgiu primeiro? Ou foi o tempo? Essa afirmação remonta ao explosivo nascimento de nosso Universo, o Big Bang. Físicos concordam que o Big Bang criou o espaço. Eles não concordam se ele também criou o tempo. Há muita gente na física e filosofia que acha que o tempo é uma ilusão, que, no nível mais profundo, a verdade é que é atemporal, o tempo está ausente. Eu não acredito nisso. Eu costumava acreditar, mas passei a acreditar que o tempo é bem real. Lee Smolin acredita que o tempo é mais antigo que o Universo. Ele existia antes do Big Bang, e existirá depois de o Universo acabar. E ele acha que pode provar, olhando de perto como as partículas de luz se comportam em longas distâncias. Umas das principais leis da Física afirma que a luz viaja a .. m/s. Se tempo for uma ilusão, então isso seria verdade em toda parte Universo, independente de para onde olhemos. Mas se o tempo for real, é possível que as leis da Física tenham mudado conforme o Universo envelhecia. Se uma lei básica da Física, como a velocidade da luz, não se mantém verdadeira na parte mais antiga do Universo, saberemos que a Física evoluiu desde que o Universo nasceu, assim o tempo não pode ser uma ilusão. Deve haver algumas experiências onde, se olharmos atentamente, talvez a velocidade da luz não seja universal. E tais experiências estão sendo feitas. O telescópio espacial Fermi é uma dessas experiências. O Fermi registra explosões de raios gama, estranhas explosões de energia nos mais distantes rincões do Universo. Essas explosões nos dão a chance de verificar as leis da Física como eram há  bilhões de anos. Imagine dois fótons partindo de uma explosão de raios gama a  bilhões de anos-luz de distância. Um fóton é compelido com mais energia que o outro. Em nossa parte do Universo, os dois fótons viajarão exatamente à mesma velocidade. Mas se a física da luz for diferente na parte mais antiga do Universo, Lee acredita que o fóton com alta energia ficará um pouco para trás. Chegaria ao ponto onde, depois de  bilhões de anos, um deles estaria de  a  segundos à frente, mas isso é o suficiente para ser detectado. Podemos detectar  segundo ao longo de  bilhões de anos. Os dados das explosões de raios gama do Fermi chegarão nos próximos anos. Em breve, Lee talvez tenha sua prova que o "agora" de  bilhões de anos atrás é totalmente diferente do nosso "agora", e, portanto, o tempo deve ser real. Provas conclusivas de que as leis da Física mudam com o tempo iriam resolver o debate se o tempo é real ou uma ilusão. Mas ainda deixaria uma grande pergunta sem resposta: Por que existe tempo? Em teoria, a Física não parece precisar do tempo, mesmo assim a gente se sente movendo-se através dele. Se o tempo não surgiu na nossa mente, então de ele onde veio? Sean Carroll acha que tem a resposta. Mas é preciso um Universo gêmeo com o tempo fluindo para trás para que tudo dê certo. Abundam teorias sobre o funcionamento do tempo, no Universo e em nossas mentes. Mas é raro o físico que pergunta: "Por que existe tempo?" Se o tempo não é algo que o ser humano inventou, então de onde ele veio? Sean Carroll acha que sabe. Sean é físico teórico do Inst. de Tecnologia da Califórnia. O tempo é real. Nós o usamos todo dia. A evidência está ao nosso redor. Mas como cientistas, quanto mais pensamos no que o tempo significa, mais misterioso ele fica. Sean aceita a ideia de senso comum de que o tempo avança, do passado para o futuro, como uma flecha. Mas por que o tempo tem uma direção? Sean acredita que a resposta está intimamente ligada a algo chamado "entropia". O que torna o tempo especial é uma lei da Física, a segunda lei da termodinâmica. Ela afirma que à medida que o tempo passa, a entropia aumenta. A entropia nos diz o quanto as coisas são bagunçadas, desordenadas e caóticas no Universo. No passado, se formos até o Universo Primordial, ele era muito organizado. Como a configuração delicada e arrumada de bolas de bilhar. Com o tempo, é como se jogássemos bilhar, a primeira coisa que fazemos   é aumentarmos o caos no Universo. Conforme o tempo passa no Universo como um todo, desordenadamente, a entropia aumenta. Desde o explosivo nascimento do Universo, o aumento da entropia é a razão pela qual o passado é diferente do futuro  pela qual há uma flecha do tempo  pela qual nos lembramos do passado  pela qual envelhecemos  pela qual a evolução acontece da forma que ocorre. É tudo por causa do aumento da entropia. Então, cadê o mistério? Entropia aumenta conforme o tempo passa. Mas o interessante, nas leis fundamentais da Física, ocultas em tudo ao nosso redor, é que não há diferença entre o passado e o futuro. Nas leis que nos foram dadas por Isaac Newton, Albert Einstein, até na Mecânica Quântica, não há distinção entre uma direção de tempo e outra. Se tivermos um sistema físico simples, como duas bolas de bilhar, ao batermos uma na outra  não há diferença entre uma direção de tempo e outra. Pode voltar o filme, que ele pareceria perfeitamente normal. É apenas quando usamos sistemas macroscópicos complicados que há diferença entre o passado e o futuro. Quando temos muitas bolas na mesa, as coisas ocorrem numa direção do tempo, mas não na outra. Ou quando as coisas "pegam fogo" no bar. Agora, temos barulho, vidro quebrando, sangue jorrando. Esses são os processos que aumentam a entropia do Universo. Juntos, esses aumentos de entropia definem a flecha do tempo. A questão é: por que a entropia foi tão lenta para começar? Nosso Universo parece estar desequilibrado. O futuro distante será um lugar muito desorganizado, mas o passado distante era altamente organizado. Como físicos, esse tipo de desequilíbrio nos aflige. Sean procurou uma explicação para o desequilíbrio do tempo, e ele a achou no multiverso. Segundo essa teoria, o Universo que vemos pode ser um de um infinito número de universos. Imagine um Universo mãe. Esse Universo mãe pode gerar Universos bebês. Uma pequena oscilação quântica pode produzir uma bolha no espaço, que começa pequena e, depois, cresce. Começa com baixa entropia e, depois, aumenta, assim como faz o nosso Universo. Um Universo mãe gera um Universo como o nosso.
 Um Universo onde a flecha do tempo move-se para frente. Mas para ficar equilibrado, ela também tem de gerar um Universo oposto, onde o tempo move-se para trás. Isso significa que em alguma outra dimensão, nosso Universo tem um irmão gêmeo mau. Toda bolha é seu próprio Universo com sua própria flecha do tempo. Em cada bolha, a flecha do tempo parece correta, mas se compararmos bolhas diferentes, as flechas estarão apontando em direções opostas. A teoria de Sean do multiverso atraiu muita atenção desde que foi apresentada. Mas ela se mostrará como a solução definitiva para o mistério do tempo? Parte da construção da física é: "E se isso for verdade? E se aquilo for verdade?" Às vezes percebemos que dar esse salto hipotético ajuda com todos os problemas que temos. Outras vezes, acabamos com uma confusão nas mãos. A Mecânica Quântica e a teoria do multiverso oferecem meios interessantes para entendermos o enigma do tempo. O que ocorre aos acrescentamos a teoria das cordas a elas? Muita esquisitice. O mistério do tempo tem muitas soluções possíveis. O tempo é absoluto ou relativo? O tempo é uma ilusão ou um produto real da entropia? Mas há uma outra possibilidade, uma ideia que desafia nossa compreensão do ontem, do hoje e do amanhã. Para nós, o tempo parece correr da esquerda para a direita, mas e se ele também correr de cima para baixo? E se o tempo, como o espaço, tiver mais que uma dimensão? Uma dimensão oculta, que não podemos ver. Steve Weinstein, cientista do Instituto Perimeter, acha que isso pode ser verdade e que talvez resolva outro grande mistério, o mistério da incerteza quântica. Steve é físico, filósofo e músico profissional. Sua visão do tempo surgiu de uma das ideias matemáticas mais densas da ciência. A teoria das cordas. Os teóricos das cordas acreditam que o espaço tem mais que as  dimensões que vemos. Isso fez Steve pensar que a mesma ideia poderia ser aplicada ao tempo. Eu pensei: "por que multiplicamos as dimensões espaciais "tão facilmente, mas não o tempo? "Há algum motivo para isso?" Havia uma certa curiosidade. Steve pôs-se a trabalhar. O tempo sempre foi tratado como uma linha, uma coisa unidimensional. Mas se o tempo tivesse duas dimensões, não seria uma linha, mas uma forma. Se virmos este cabo de guitarra de longe, ele parece um objeto unidimensional. Ele parece uma linha. Se nos aproximarmos, veremos que tem outra dimensão, relacionada à circunferência do cabo. Parece um cilindro. Nosso mundo parece tridimensional da mesma forma que este cabo parece unidimensional de longe. Segundo Steve, se o tempo tiver uma dimensão extra, então as partículas fundamentais, como elétrons e fótons, estão dispersas no tempo. Uma forma comum de se descrever uma partícula seria falar de sua posição em dado momento do tempo. Então a partícula, ou a palheta, poderia estar aqui, aqui ou aqui. Seu eu fizesse um gráfico, teria o tempo como eixo vertical, eu desenharia assim. Se tivermos uma dimensão temporal extra, podemos visualizar a dimensão temporal perpendicular ao braço da guitarra, nesta direção. A partícula poderia estar aqui, talvez aqui e talvez bem aqui. Explicando de outra forma, a teoria quântica nos diz que as partículas subatômicas não têm endereços definitivos no espaço. Só podemos supor onde elas provavelmente vivem. Steve suspeita que elas têm endereços, mas tais endereços estão dispersos numa dimensão temporal extra que não podemos detectar. Se isso for verdade, revolucionará a Física. O confuso mundo quântico entrará em foco. Mas infelizmente, provar que o tempo bidimensional é real é praticamente impossível. Por um motivo, não é fácil de entender, mesmo para outros físicos. A matemática necessária para descrever um Universo com duas dimensões de tempo é difícil. Adicione o espaço de  dimensões da teoria das cordas, e a cabeça das pessoas explode. É um conceito muito desafiador. É o problema mais difícil que já enfrentei, por isso não há mais ninguém enfrentando. É difícil pensar no que representaria uma dimensão temporal extra? No entanto, Steve acha que o esforço compensa. A multiplicidade de tempos é uma forma, talvez a errada, mas é uma forma radicalmente diferente de conceituar o mundo físico. Os físicos que exploram o mistério do tempo observam o Universo de forma distinta, mas todos concordam em uma coisa. Nunca resolveremos o mistério se não investigarmos. É preciso trabalhar duro, estar preparado para fracassar muitas vezes e cometer muitos erros. Mas creio que esse conhecimento também aplica-se a toda comunidade científica. Ou seja, temos de testar toda ideia estúpida e errada antes de chegarmos à certa. O tempo talvez seja real ou uma ilusão. Mas da nossa perspectiva, o passado se foi para sempre, e o futuro ainda está para ser escrito. Independente de descobrirmos a existência de aspectos físicos temporais que não percebemos, a nossa experiência humana do eterno ciclo da vida e morte não mudará. Os preciosos verões da minha infância se foram para sempre. Mas, há novos verões adiante. Verões ricos do potencial das coisas que ainda estão por vir. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário